terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Dona Elvira

"Minha querida Vó,

Saudades de seus abraços. 
Meus ombros nunca mais foram os mesmos sem tuas massagens regadas a histórias da infância. Hoje eles carregam o peso da responsabilidade.
Meus ouvidos ainda escutam aquele sotaque alemão, e as risadas do seu jeito errado de escrever a lista de compras. Ainda me recordo da velha e boa história de como você aprendeu português ensinando alemão e cuidando de criança. 

Lembro do dia que você caiu do cavalo descendo do morro, mesmo não vivenciando. 

Lembro do seu cheiro de vó. Do seu ombro me consolando a cada briga com minha mãe, e de seus dedos limpando minhas lágrimas a cada castigo. 

Eu nunca mais reclamei dos tapetes que escorregavam na casa com o chão encerado. Ninguém nunca mais reclamou das minhas corridas no corredor da velha casa de madeira. Eu nunca mais dividi os sonhos de uma vida tranquila, família grande e muitos filhos. Hoje eu só penso em faculdade, trabalho e perspectivas profissionais. 

Eu nunca mais fiz massagem em alguém sem reclamar... reclamo sempre. Porque não são os seus ombros que massageio, e não são as suas histórias que eu ouço. 

Gostaria de voltar no tempo, de ficar de castigo e passar a tarde na tua casa. Brincando sozinha, ouvindo você reclamar da minha bagunça e me fazer um pão com nata. Queria voltar a acreditar naqueles sonhos. Queria ir todo o verão nadar na velha piscina de plástico nos fundos da tua casa. Queria ouvir as histórias do vô. 

Hoje te tenho em fotos, nas lembranças, no diário, no coração e na alma. E agora, em mais uma música. 

Obrigada querida "véia Elvira". Espero que tenhas orgulho do que me tornei, pois te tenho como parte de mim.

Com amor,

da neta Kamile."