segunda-feira, 22 de abril de 2013

Estórias - Parte I

Helena e Eduarda eram ambíguas. Unidas por olhares entre uma distância estipulada por uma hierarquia que elas não entendiam. Cresceram no mesmo espaço, trocando sorrisos escondidos. E olhares de consolo. Suas famílias jamais romperam com as regras. Cada uma com suas responsabilidades. E assim foi por anos.

Em um dia de sol, Helena resolveu romper a barreira imposta por sua cuidadora, e resolveu ir brincar além dos limites do castelo. Partiu acompanhando as nuvens e o céu, iluminado por um sol e por seus sonhos. Sorrindo e cantando encontrou Eduarda fora dos limites, fora daquilo que as mantinham longe. Com olhares de dúvida e sorrisos nos seus rostos, pararam uma em frente a outra. Apenas com os olhares, ao mesmo tempo ergueram as mãos e se tocaram, Helena acariciou o rosto de Eduarda, que já estava com a sua mão na outra mão daquela menina que parecia uma boneca de porcelana. Romperam o silêncio com gargalhadas.  

De repente, riam. Riam muito. Riram a ponto de se jogarem no chão e gargalharem. Após alguns minutos Helena agradeceu a amiga, pelo conforto. Eduarda se espantou e disse que queria agradecer ela pelo mesmo motivo. Ambas viviam em mundos diferentes, sendo cobradas de maneiras diferentes. Ambas amarguradas pela pobreza e pela riqueza. As duas se confortavam a cada olhar trocado.

Naquela tarde elas correram pelos campos, banharam-se no rio, comeram frutas, cantaram, sonharam. Viveram num universo paralelo, onde não existiam regras, apenas amizade. Elas conheceram o significado do amor e amizade, em gestos sutis e brincadeiras de crianças. 

Suas vidas nunca mais foram as mesmas após aquela tarde. Helena, dentro de suas obrigações no castelo, suportava tudo em nome daquela amizade que a mantinha segura. Eduarda era o pilar de Helena e vice-versa. Assim, por anos elas se ajudaram e tornaram a vida mais agradável com suas brincadeiras e sonhos. Lá, no bosque, o mundo era ideal, sem classe, dinheiro, interesse, vestidos, camponeses, exploração. Era no bosque que elas se perdiam em um mundo justo. 

Após a morte do pai de Eduarda, os encontros foram ficando escassos. A menina de cabelos ruivos tinha de ajudar no sustento da casa. O que a deixara mais magra e fraca. A comida nunca fora farta em sua casa, mas as tarde com a amiga era garantia de sobras do castelo. A sobras de comida e um amor sincero que a mantinham seus olhos corados e vivos. Helena sofrera muito com a distância da amiga. Tentou chegar perto diversas vezes, mas sua cuidadora sempre a impedia de se aproximar de seres inferiores. A dor de Helena era na alma.

Ao completar quinze anos, Helena descobriu que iria se casar. para desespero completo de Eduarda, que ouviu o anúncio feito em frente ao castelo. Helena e Eduarda sabiam que aquele seria o ato que colocaria um ponto final em seus encontros. Ambas seguiriam o curso da vida, longe do apoio que aquela amizade representava na vida delas. Helena sempre disse que não tinha vontade de se casar, já que nutria uma paixão platônica por um arqueiro que trocava olhares com ela. Eduarda queria desbravar o mundo, esse era o sonho que confidenciava a amiga. 

Um dia, no lago, Eduarda avistou Helena e o Arqueiro. E entendeu o brilho no olhar da amiga. Dias antes elas se cruzaram em uma feira. Helena estava com o noivo, moço bonito, mas rude demais para os padrões de homem ideal estipulado pelas amigas. O noivo era nobre, filho de um feitor. O arqueiro era bravo, porém dotado do sorriso mais lindo que ambas viram. Ao avistar a amiga com aquele que era seu amor, Eduarda sentiu um alívio, mesmo comprometida, mesmo com as cobranças, Helena chegara perto do amor verdadeiro. E agora, já era hora de Eduarda partir. Sabia que aquele arqueiro, daria a luz necessária a vida de sua grande amiga. 

No outro dia, Eduarda amanheceu antes de todos. E com a roupa do corpo, partiu sem intenção de retornar. Deixou um bilhete a sua mãe, e alguns tostões juntados com trabalhos extras. E antes de pegar a estrada, procurou o arqueiro, deixando com ele sua despedida a amiga. Mas antes de partir, ouviu a promessa mais sincera de toda sua vida. Aquele arqueiro, com seu sorriso e brilho nos olhos, prometeu cuidar de Helena. Onde quer que ela fosse. Prometeu manter o brilho no olhar de sua amada e fiel amiga, e guardar sua felicidade, como Eduarda sempre fez.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Desejos...

Desejo que as pessoas sejam menos pré-conceituosas.
Desejo mais abraços. Mais beijo. Mais demonstração de carinho.
Desejo mais piadas e menos crítica. Desejo que eu consiga rir de mim mesma e te chamar pra rir junto.
Desejo rir dos meus defeitos, sem esquecer que preciso superá-los. E rir ajuda. 
Desejo amigos que briguem, discutam, me magoem, que me permitam errar. Mas desejo mais ainda amigos que me perdoem, que me entendam quando errar.
Desejo sonhos. Impossíveis e possíveis.
Desejo amar cada criança que aparecer na minha frente, e em troca receber um sorriso sincero.

Quero gratidão. 
Quero cúmplices. 
Quero festa.
Quero paz.
Quero música.
Quero silêncio.

Preciso de ousadia.
Mas também preciso de calma.
Preciso de desafios.
Mas também preciso do obvio. 
Preciso de conselhos.
Mas também de puxões de orelhas.

Persisto porque desejo, quero e preciso.
Isso é desejo de vida. Desejos pra vida. Desejos na vida. Desejos da vida...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Saudade...

A saudade é um sentimento que simplesmente chega, invade o dia, o momento, o sono, a dor...
Ela pode ter cheiro, rosto, toque, lugar de origem, endereço, data... Ou ela simplesmente não tem sentido. 
A saudade não precisa ter um vínculo sensato, ela apenas existe porque precisamos desse sentimento. 
Precisamos sentir a falta, de algo bom, ou até mesmo ruim. Mas que nos remete a um sentimento incontrolável. 

É possível sentir saudade de algo que não foi vivido, ou de alguém que nunca vimos e falamos.
Para existir saudade basta ter amor, ou algum sentimento que derive dele.
Saudades de um amor que nunca mais será sentido, ou apenas consumado num toque ou abraço.

A saudade nos ensina, mas também pune.
Ela nos leva para os lugares mais distantes, sem  nos percebermos lá.

Sinto saudades de tanta coisa, e sei que muitas saudades inimagináveis ainda vão surgir. 
E quero que a saudade sempre venha, me surpreenda. Quero descobrir amores por este caminho. 
Quero ser descoberta com saudade. Quero ser lembrada com saudade.
Quero lembrar de tudo o que me importa e que eu acho que não importa, com uma saudade que traz a sensação de dever feito, muito bem feito.

Mas se ela não vier do jeito que eu idealizo, que ainda assim ela venha. 
Porque eu preciso da saudade. Pois eu sinto saudade de sentir saudade...